Ela fica imóvel, incapaz, um gesto inacabado. As mãos na altura do peito, o peito disparado, o cotovelo tenso, o dedos estendidos, o copo no chão, os cacos na barata, a barata viva, os filhos dormindo no colchonete no chão. O chinelo no pé, o pé plantado, a boca aberta, sem respirar. O grito enforcado, a antena mexendo. Olho no olho da barata sem olho. A cor de queimado.
A barata estátua.
A barata anda, a perna pula, depois a outra, o grito escapa, a barata passa, os filhos no chão. O grito estria, a criança acorda. A outra não. A barata gira a criança anda, a outra dorme, ela pula, a barata voa, a criança grita, a outra chora. Ela chora, a barata grita, as crianças correm e os cacos no chão.
O chinelo pula, as crianças pulam, a barata pula. O pé cortado, o chinelo virado, a barata não morre. A barata some, as crianças dormem. O olho abre, o corpo deita. O buraco é escuro. A vigília é longa, a noite tarda. Ela sonha. A barata chora.