Por não saber pra onde você foi, a gente foi ao teu jardim. Deitamos no cobertor sobre a grama que te cobre. Essa certeza ninguém nos tira. Teu corpo está ali, misturado com a terra que alimenta a grama e se a gente deitar em cima, tem um pouco de você no chão. Por sabermos pouco do teu jardim, fomos de noite, levando as crianças e acho que foi só por causa delas que o moço nos deixou entrar.
E porque era de noite, Mãe, a lua estava cheia, ou quase cheia, mas tão linda, que eu fiquei feliz que fosse noite. E como era noite das mães, teu jardim, que é tão bonito, estava mais bonito ainda. Ou talvez fosse só o luar. Mas nós reparamos em quantas mães e avós também estão se misturando na terra do teu jardim, com tantas flores em vasos em cima da grama. Que pena que não pode plantar direto na terra. Porque se pudesse, eu plantava hortênsias como as de São Bento e uma horta, pra colher flores azuis e temperar a vida que anda meio sem graça sem você. Mas foi bonita a noite das mães, porque segue bonita a vida que você tanto amava. Ela segue bonita sem você. Bonita como encontrar um pote da tua geleia de morango no congelador. Bonita, Mãe… Você e a vida. Os meninos acenderam tanta vela que parecia uma fogueira. O teu pedaço do jardim era o único que brilhava. Teu jardim e a lua. Quando eu deitei sobre a coberta abraçada no teu neto que dormia, eu pensei assim, que antes eu precisava do som pra te escutar, e dos teus olhos pra você me enxergar. Agora eu só preciso deitar na grama, e acho que qualquer grama pode. Porque eu perdi o chão sem você. Quem é que não perdia? Mas se eu deitar bem deitada, todo chão é lugar pra me misturar com você… Foi bonita a noite das mães. Foi bonita também porque não foi dia. Porque a gente escapou das propagandas e das trocas de presentes; porque a gente escapou da celebração. Que tem dia que não devia fazer aniversário. Só pra lembrar a gente que a maternidade é um milagre. Que mesmo as formigas e as abelhas tendo filhos, toda criança quando nasce tem um pouco de menino jesus. Acendendo e apagando. Como as estrelas. Acendendo e apagando. E mesmo toda formiga, abelha ou Gabriel Garcia Marquez apagando, toda morte tem um tanto quase insuportável de tragédia. Precisa de vela! Pra comemorar ou pra rezar. Vela de bolo, vela de morto. Pra apagar num sopro ou esperar a cera esparramar. E fechar os olhos sempre pra fazer o pedido…Que é no escuro que a gente vê melhor. Foi bonita a noite das mães….
sexta-feira, 6 de junho de 2014
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